Conheça os usos medicinais e terapêuticos da argila

Fonte de minerais, metais e nutrientes, além do forte magnetismo, a terra nos brinda com a possibilidade de ampliarmos a saúde e o bem-estar a partir do barro

Você já deve ter ouvido histórias de pessoas que cruzam o planeta para visitar regiões famosas por seus banhos de lama, a exemplo do Mar Morto, em Israel. Não, elas não foram ludibriadas por algum agente de turismo. Pelo contrário, estavam bem informadas sobre as propriedades medicinais e terapêuticas do barro e da argila.

Produto da natureza, esse substrato apresenta vários atrativos: é antisséptico, anti-inflamatório, analgésico, desintoxicante, sedativo e/ou revitalizante. Não é de se estranhar tamanha versatilidade, afinal ele carrega o poder regenerador da terra, matriz primordial de composição química, geológica e magnética que tudo dá – minerais, metais, nascentes, nutrientes e alimentos.

Os povos da Antiguidade não só conheciam esse manancial de cura como recorriam a ele para cuidar de desequilíbrios físicos e emocionais. “As propriedades terapêuticas presentes na argila variam e contemplam seus componentes físico-químicos e outros mais sutis, que atuam num campo mais energético”, esclarece a PhD. Paula Cristina Ischkanian, professora de Naturologia da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.

Essa joia presente no solo é um bálsamo para a pele, pois absorve toxinas e impurezas, além de promover a reconstituição dos tecidos e amaciar a cútis. Mas vai muito além disso. É indicada para amenizar dores musculares, nas articulações e na cabeça e também para harmonizar aspectos emocionais ou para tratar um padrão mental em desequilíbrio. Pode ser usada  de forma isolada ou de maneira complementar a outras terapias – há profissionais, por exemplo, que associam a matéria-prima aos óleos essenciais, potencializando o tratamento e direcionando-o para inúmeros fins.

Para que seu uso seja seguro, salienta a especialista, é importante que se faça uma avaliação com um profissional da área. Daí então é possível determinar se o mineral será ministrado na forma de cataplasma (pasta aplicada por meio de gazes em diferentes partes do corpo), banho nos pés, máscara facial ou massagem.

“Em quadros de depressão e ansiedade, a modalidade mais utilizada é em forma de cataplasma. A região do corpo pode variar, mas nas costas seria uma boa aplicação para esses casos”, detalha Paula.

Outro importante fator que influi na aplicação é a cor do substrato, escolhida de acordo com a finalidade do tratamento. Se um paciente tem como queixa principal a depressão, então a argila vermelha é a mais adequada, uma vez que possui maior quantidade de ferro, silício, cobre e cromo em seus minerais,  além de ser uma cor quente, densa, com frequência e onda do espectro solar mais estimulantes, com forte influência sob o fluxo sanguíneo. “Esse tipo específico está mais voltado à ação do que ao relaxamento, como ocorre com a cor verde, que promove um efeito mais relaxante e sedativo, acalmando a mente nos casos de ansiedade”, ela distingue.

Se o desconforto for apenas físico, como uma dor de cabeça ou nas costas, não há problema em usar a argila em casa, desde que a modalidade da aplicação, a cor e o tempo de duração sejam adequados, orienta a professora. Além disso, é bom saber que produtos industrializados, como cremes hidratantes com princípios de argila, não geram os mesmos efeitos da versão natural pura. “O processo de industrialização costuma desnaturalizar parte dos seus componentes. Com isso, ele deixa de ser um produto orgânico e íntegro”, alerta.

Efeitos na alma 

Para aqueles que estão imersos no processo de autoconhecimento, a argila também é de grande valia. Não à toa, é um dos recursos mais utilizados na arteterapia.

“Trata-se de um material orgânico que, quando manipulado, pode se apresentar de inúmeras formas. E, ao secar, é capaz de trazer à tona muitos conteúdos simbólicos que farão ou não contraste com o que foi moldado na sessão”, explica Factima El Samra, arteterapeuta, de São Paulo.

A argila é imprevisível, aos poucos ela vai se mostrando, se revelando, em nuances e texturas variadas. O indivíduo pode até tentar controlar aquilo que  pretende criar com a matéria-prima, mas algo inesperado e surpreendente costuma emergir. Por isso mesmo, os perfis mais controladores podem se sentir desconfortáveis ao constatarem que a composição não saiu do jeito que eles haviam imaginado, principalmente depois de seca, quando fissuras e outras imperfeições costumam aparecer.  É como diz o poema do Paulo Leminski: “O barro toma a forma que você quiser. Você nem sabe. Estar fazendo apenas o que o barro quer”.

É o nosso interior tentando estabelecer uma ponte com a nossa consciência por meio de valiosas pistas. “O que será representado pode ser algo resultante apenas da exploração do material, bem como a representação de um sonho, um sentimento ou um afeto. As possibilidades são inúmeras”, destaca Factima. Seja como for, o importante é que a imagem faça sentido para aquele que a criou.

Na clínica, ela detalha, há duas possibilidades de interação com a argila. Uma consiste apenas no fazer, que, por si só, já reverbera uma série de sensações, impressões e conteúdos no paciente; a outra abarca a ampliação da imagem trazida por meio da criação. “Uma composição moldada no barro pode remeter a um lugar e nele pode existir algo muito simbólico, como, por exemplo, a imagem de um Deus ou Deusa. Assim, a simbologia trazida por estas divindades lançará luz sobre as dificuldades do paciente, bem como sobre seu processo em busca do autoconhecimento”, ilustra a especialista.

É curioso notar como, ao longo da nossa jornada, instintivamente, buscamos repetidas vezes o conforto da terra, seja pisando no solo com os pés descalços, seja tomando um banho de lama, seja nos entregando a uma sessão terapêutica à base de argila. Terra é mãe, é colo, é vida em transformação. Pode apostar.

Contato

Factima El Samra

Arteterapeuta

Tel. 11 97546-5643

www.factimaelsamra.wix.com/site

Portal Anhembi

www.portal.anhembi.br

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